Efeitos secundários da pílula: o que deve ter em conta
As pílulas anticoncecionais foram o método contracetivo mais usado durante décadas, mas a sua utilização tem vindo a diminuir nos últimos anos. Em Portugal, quase metade de todas as mulheres casadas ou em união de facto utilizam a pílula como método contracetivo (de acordo com os dados de 2015 do Statista), e um estudo concluiu que a maior preocupação das mulheres está relacionada com os riscos associados aos contracetivos. [1] Também se concluiu, noutro inquérito, que até 72% das utilizadoras afirmaram ter precisado de mudar de pílula, devido a efeitos secundários. [2]
Efeitos secundários mais frequentes da pílula
Todos os métodos contracetivos hormonais têm possíveis efeitos secundários. As pílulas anticoncecionais também podem causar efeitos adversos. E é por isso que, na maioria dos países, é necessária uma receita médica para comprar a pílula anticoncecional.
A maioria dos efeitos secundários da pílula são ligeiros e desaparecem após os primeiros dois a três meses de toma da pílula.
Estes efeitos incluem [3]
- Acne
- Sangramentos entre os períodos
- Flatulência
- Complicações psicológicas (por exemplo, depressão e diminuição do apetite sexual)
- Cansaço
- Tonturas
- Retenção de líquidos
- Dor de cabeça
- Aumento ou diminuição do apetite
- Insónias
- Melasmas (manchas escuras no rosto)
- Oscilações de humor
- Náusea
- Sensibilidade ou dor nos seios
- Vomitar depois de tomar a pílula
- Diarreia causada pela pílula*
- Aumento de peso
A pílula do dia seguinte e a minipílula (que contém apenas progesterona) podem causar efeitos secundários semelhantes.
* A diarreia e a pílula, em simultâneo, dão origem a uma situação indesejável, pois a diarreia pode afetar a absorção da pílula, com a possibilidade de redução da sua eficácia e aumento do risco de gravidez indesejada.
Efeitos secundários menos frequentes da pílula
Os efeitos secundários da pílula mais graves incluem [3]:
- Coagulação sanguínea
- Doenças da vesícula biliar
- Ataque cardíaco
- Hipertensão arterial com a toma da pílula
- Cancro do fígado
- AVC
Um estudo [31] demonstrou que o estrogénio contido nas pílulas, adesivos e anéis anticoncecionais pode aumentar o risco de infeções fúngicas, normalmente causadas pelo fungo Candida albicans. Como resultado da candidíase vaginal, algumas mulheres podem apresentar sintomas como secreções vaginais brancas, ardor em redor da abertura vaginal, dor ou secura durante o sexo e comichão causada pela pílula.
Quais são os benefícios da pílula?
No entanto, não são apenas as desvantagens da pílula que devem ser tidas em conta. Existe uma variedade de efeitos da pílula contracetiva no corpo que são positivos e devem ser salientados. Estes incluem:
- Regulação do ciclo menstrual, reduzindo sangramentos irregulares e intensos. A pílula permite gerir os períodos, de acordo com as preferências pessoais, como, por exemplo, prolongar o ciclo.
- Melhoria dos sintomas e efeitos, a longo prazo, da síndrome do ovário poliquístico (SOP). [4]
- Menos dores menstruais. [5]
- Tratamento do acne hormonal, o que leva a uma pele mais limpa. [6]
- Risco reduzido de desenvolver cancro do útero. [7]
- Diminuição do risco de cancro dos ovários. [8]
- Alívio dos sintomas da TPM e do TDPM. [9]
- Gestão da endometriose. [10]
- Redução de enxaquecas menstruais, embora também possa agravar enxaquecas e dores de cabeça nalgumas mulheres. [11]
- Risco reduzido de anemia. [12]
- Afrontamentos menos frequentes. [13]
Quem não deve tomar a pílula?
Se fuma e tem mais de 35 anos, corre um risco maior de a pílula lhe causar efeitos secundários mais graves.
O seu médico também poderá sugerir outro método, [14] se:
- estiver a planear realizar um procedimento cirúrgico que limitará a sua mobilidade durante a recuperação;
- tiver desenvolvido icterícia durante a gravidez ou enquanto tomava a pílula;
- tiver crises de enxaquecas com aura;
- tiver uma pressão arterial muito alta ou um historial de AVC;
- tiver um IMC elevado ou sofrer de obesidade;
- tiver dores no peito ou tiver sofrido um ataque cardíaco;
- tiver problemas relacionados com a diabetes que afetem os seus vasos sanguíneos, rins, nervos ou visão;
- sofrer de cancro do fígado, do útero ou da mama;
- sofrer de uma doença hepática ou cardíaca;
- tiver sangramentos irregulares ou entre os períodos;
- já tiver sofrido de coagulação sanguínea;
- estiver a tomar medicamentos, sujeitos ou não sujeitos a receita médica, que interajam com as hormonas presentes na pílula.
Como reduzir o risco de efeitos secundários da pílula anticoncecional?
Para minimizar o risco de efeitos secundários graves da pílula anticoncecional, deve informar o seu médico
- se estiver a amamentar
- a tomar medicamentos para a epilepsia
- estiver deprimida ou lhe tiver sido diagnosticada uma depressão
- sofrer de diabetes
- tiver o colesterol alto
- sofrer de doenças renais, hepáticas ou cardíacas
- tiver dado à luz recentemente
- tiver realizado, recentemente, um aborto espontâneo ou induzido
- estiver a tomar medicamentos derivados de plantas
- suspeitar de que possa ter um caroço ou alterações num ou em ambos os seios.
A pílula tem um impacto negativo a longo prazo?
A pílula é geralmente segura, mesmo com uma toma prolongada.
No entanto, a toma da pílula contracetiva pode aumentar o risco de desenvolver determinados tipos de cancro, ao longo do tempo [8]:
- Cancro da mama: Em geral, o risco aumenta em 7%. Em mulheres que tomavam contracetivos orais, o risco era 24% maior, sem um aumento do período de utilização. [15] Estes efeitos secundários diminuíram, após a interrupção da toma da pílula, e, dez anos após a interrupção, não foi registado um risco aumentado [16]
- Cancro do colo do útero: Quanto mais tempo as mulheres utilizarem contracetivos orais, maior é o risco de desenvolverem cancro do colo do útero [17]. No entanto, ficou comprovado que estes efeitos secundários da pílula diminuem ao longo do tempo, quando as mulheres deixam de tomar a pílula [8].
No entanto, a toma da pílula também está associada a um risco menor de outros tipos de cancro:
- A pílula reduz o risco de cancro do cólon, do ovário e do endométrio. [18]
- Ao contrário do que muitos receiam, a pílula não torna as mulheres inférteis. [19]
Quais são as alternativas à pílula?
Existem várias alternativas à pílula. Para além de outros métodos contracetivos hormonais, tais como anéis ou implantes hormonais, que podem, muitas vezes, ter efeitos secundários semelhantes aos da pílula, existem vários métodos contracetivos sem hormonas.
O índice de Pearl indica o nível de segurança dos métodos contracetivos. Quanto menor o valor, mais seguro é o método em questão. O valor da pílula, no índice de Pearl, é de 0,1– 0,9. [20]
Diafragma vaginal
O diafragma vaginal é um preservativo de silicone com uma forma côncava, que é inserido na vagina, para evitar que o esperma entre no útero. O diafragma vaginal deve ser inserido pelo seu médico.
Índice de Pearl: 1-20 [21]
Diafragma cervical
O diafragma cervical é um pequeno dispositivo de silicone em forma de chapéu, que é encaixado no colo do útero, para não deixar passar o esperma. Tal como o diafragma vaginal, deve ser inserido pelo seu médico.
Índice de Pearl: 6 [22]
Esponja
A esponja é feita de espuma e funciona de forma semelhante aos diafragmas vaginal e cervical. As duas principais diferenças são que a esponja já contém um espermicida e que pode ser adquirida sem receita médica.
Índice de Pearl: 5-10 [23]
DIU de cobre
Este dispositivo em forma de T é um dispositivo intrauterino não hormonal. Este é inserido no útero. Tem um revestimento de cobre, que é tóxico para os espermatozoides e impede que estes se desloquem pela vagina até ao óvulo. Caso contrário, evitará também que o óvulo fertilizado se fixe no útero. Não tem os efeitos secundários da pílula, quando utilizado a longo prazo, mas oferece uma proteção fiável durante muito tempo.
Índice de Pearl: 0.4-1 [24]
Espermicida
Um espermicida é um agente químico que é inserido na vagina, para matar ou paralisar os espermatozoides. Os espermicidas estão disponíveis sem receita médica e em vários formatos, tais como géis, espumas e supositórios.
Índice de Pearl: 3-25 [25]
Gel Vaginal
Este gel é inserido na vagina, por meio de um aplicador, antes da relação sexual. Impede que o nível de pH da vagina suba e que os espermatozoides entrem no trato reprodutivo para alcançar o óvulo.
Índice de Pearl: desconhecido.
Preservativo Masculino
Um invólucro fino, muitas vezes feito de látex, que o homem coloca sobre o pénis, durante a relação sexual, para evitar que o esperma entre no corpo da mulher. É possível comprar este método contracetivo praticamente em qualquer lugar: supermercados, farmácias, bombas de gasolina, etc.
Índice de Pearl: 2 [26]
Preservativo Feminino
O que são preservativos femininos? São bolsas de látex lubrificadas, que são inseridas na vagina. Têm anéis flexíveis em ambas as extremidades. Uma extremidade é fechada, para não deixar passar esperma. Estão disponíveis em qualquer farmácia online e não precisam de ser ajustados a cada mulher.
Índice de Pearl: 5-25 [27]
Esterilização Tubária
A laqueação das trompas envolve fechar as trompas de Falópio da mulher, para que nenhum óvulo entre no útero. Índice de Pearl: 0.01 [28]
Esterilização Masculina
Uma vasectomia masculina é um procedimento cirúrgico que envolve o corte ou bloqueio dos canais deferentes, para impedir, permanentemente, que os espermatozoides entrem no esperma, o que provoca a esterilidade. Índice de Pearl: 0.05 [28]
Coito Interrompido
No coito interrompido, o homem retira o pénis da vagina, antes de ejacular.
Índice de Pearl: 5-35 [29]
Método do Calendário
A mulher monitoriza o seu ciclo menstrual, incluindo secreções vaginais e temperatura corporal, para descobrir em que dias está fértil. Nesses dias, abstém-se de ter relações sexuais ou usa um método de barreira.
Índice de Pearl: 0,2–2,2 [30]
Resumo
E se se esquecer de tomar uma pílula, colocando em risco a proteção da mesma? Soa-lhe familiar? Isto faz-nos pensar melhor se os efeitos secundários da pílula valem a pena.
Quanto mais velha a pessoa, maior o risco de sofrer, não só efeitos secundários ligeiros, mas também efeitos secundários graves, com consequências graves.
Mas nem todas as alternativas se aproximam da segurança da pílula. Algumas delas, como a do calendário, são bastante exigentes. Os diafragmas vaginais e cervicais têm de ser ajustados regularmente e requerem um encaixe perfeito. Tudo isto pode dificultar a escolha. É importante distinguir a segurança teórica da prática. No índice de Pearl mencionado anteriormente, os valores inferiores são os valores teóricos; na prática (com, por exemplo, esquecimentos, preservativos rompidos e ciclos irregulares), devem ser tidos em conta os valores mais altos. Isto aplica-se especialmente aos preservativos e ao método do calendário (índice de Pearl mais próximo de 5-8).
O seu ginecologista pode aconselhá-lo na sua escolha.
Fontes
[1] Palma F, Costa AR, Neves J, et al. Perception of oral contraception - do women think differently from gynaecologists?. Eur J Contracept Reprod Health Care. 2023;28(2):125-131. doi:10.1080/13625187.2023.2185482.
[2] Contraception: One third of women suffer from the side effects of the pill. JournalMed. 19.07.2019. https://www.journalmed.de/patientenbereich/lesen/verhuetung_ein_drittel_frauen_leidet_nebenwirkungen_pille
[3] Estrogen and Progestin (Oral Contraceptives). MedlinePlus. 15.09.2015. https://medlineplus.gov/druginfo/meds/a601050.html
[4] THE PILL REDUCES DIABETES RISK IN WOMEN WITH POLYCYSTIC OVARY SYNDROME. Gynecologists online. December 23, 2021. https://www.frauenaerzte-im-netz.de/aktuelles/meldung/pille-reduziert-diabetes-risiko-bei-frauen-mit-polyzystischem-ovarsyndrom
[5] Rachel K. Jones. Beyond Birth Control: The Overlooked Benefits Of Oral Contraceptive Pills. November 2011. https://www.guttmacher.org/sites/default/files/report_pdf/beyond-birth-control.pdf
[6] InformedHealth.org [Internet]. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG); 2006-. Acne: Research summaries – Which birth control pills can help reduce acne? [Updated 2022 Dec 5]. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279209/
[7] ACOG Practice Bulletin No. 110: noncontraceptive uses of hormonal contraceptives. Obstet Gynecol. 2010;115(1):206-218. doi: 10.1097/AOG.0b013e3181cb50b5 .
[8] Iversen L, Sivasubramaniam S, Lee AJ, Fielding S, Hannaford PC. Lifetime cancer risk and combined oral contraceptives: the Royal College of General Practitioners' Oral Contraception Study. Am J Obstet Gynecol. 2017;216(6):580.e1-580.e9. doi: 10.1016/j.ajog.2017.02.002 .
[9] de Wit AE, de Vries YA, de Boer MK, et al. Efficacy of combined oral contraceptives for depressive symptoms and overall symptomatology in premenstrual syndrome: pairwise and network meta-analysis of randomized trials. Am J Obstet Gynecol . 2021;225(6):624-633. doi: 10.1016/j.ajog.2021.06.090 .
[10] Endometriosis treatment. University Hospital Zurich. https://www.usz.ch/fachbereich/gynaekologie/angebot/endometriose
[11] Migraine. Office Of Women s Health. 22.02.2021. https://www.womenshealth.gov/az-topics/migraine
[12] Bellizzi S, Ali MM. Effect of oral contraception on anemia in 12 low- and middle-income countries. Contraception. 2018;97(3):236-242. doi: 10.1016/j.contraception.2017.11.001 .
[13] Fewer hot flashes when using the pill for contraception. Ärzte Zeitung. 04.11.2008. https://www.aerztezeitung.de/Medizin/Weniger-Hitzewallungen-bei-Verhuetung-mit-Pille-359583.html
[14] Cooper DB, Patel P, Mahdy H. Oral Contraceptive Pills. [Updated 2022 Nov 24]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430882/
[15] Oral Contraceptives and Cancer Risk. National Cancer Institute. 22.02.2018. https://www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/hormones/oral-contraceptives-fact-sheet
[16] Collaborative Group on Hormonal Factors in Breast Cancer. Breast cancer and hormonal contraceptives: collaborative reanalysis of individual data on 53 297 women with breast cancer and 100 239 women without breast cancer from 54 epidemiological studies. Lancet. 1996;347(9017):1713-1727. doi: 10.1016/s0140-6736(96)90806-5 .
[17] Smith JS, Green J, Berrington de Gonzalez A, et al. Cervical cancer and use of hormonal contraceptives: a systematic review. Lancet. 2003;361(9364):1159-1167. doi: 10.1016/s0140-6736(03)12949-2 .
[18] Michels KA, Pfeiffer RM, Brinton LA, Trabert B. Modification of the associations between duration of oral contraceptive use and ovarian, endometrial, breast, and colorectal cancers. JAMA Oncol . 2018;4(4):516-521. doi: 10.1001/jamaoncol.2017.4942 .
[19] Taking the pill for a long time does not cause infertility. Pharmaceutical Journal. 30.09.2002. https://www.pharmazeutische-zeitung.de/pharm6-40-2002/
[20] Pearl Index. Pro Familia. https://www.profamilia.de/themen/verhuetung/pearl-index
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[23] Bürger, Britta. Contraceptive sponge. Netdoktor . 10.02.2021. https://www.netdoktor.de/sexualitaet/verhuetung/verhuetungsschwamm/
[24] INTRAUTERINPESARY / COPPER IUD. Gynaecologists on the Internet. 24.04.2018. https://www.frauenaerzte-im-netz.de/familienplanung-verhuetung/intrauterinpessar-kupferspirale/
[25] CHEMICAL CONTRACEPTION METHODS. Gynecologists on the Internet. 24.04.2018. https://www.frauenaerzte-im-netz.de/familienplanung-verhuetung/chemische-verhuetungsmethoden/
[26] CONDOM. Gynecologists on the Internet. 24.04.2018. https://www.frauenaerzte-im-netz.de/familienplanung-verhuetung/kondom/
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[30] Natural family planning: Getting pregnant with NFP or using hormone-free contraception? IKK Classic. https://www.ikk-classic.de/gesund-machen/familie/natuerliche-familienplanung
[31] Kumwenda P, Cottier F, Hendry AC, et al. Estrogen promotes innate immune evasion of Candida albicans through inactivation of the alternative complement system. Cell Rep. 2022;38(1):110183. doi: 10.1016/j.celrep.2021.110183